domingo, 14 de março de 2021

Dúvidas

Já que falamos disto deixem-me dizer que acho importante pensar bem no assunto, respirar fundo, duas ou três vezes, ou mais se for preciso e aclarar a voz, de forma a não deixar indefinições sobre o que vamos dizer.

Aprendi com o esforço dos anos a cavarem-me rugas na testa e noutras partes do corpo. A bênção de conseguir ser conciso quando falo é uma das maiores virtudes (se assim lhe posso chamar) que o tempo e a experiência me ofereceram.

Ter sempre a cabeça cheia de dúvidas é também uma das qualidades de que me orgulho. Ah, a fortuna de saber que nunca nada é certo nem definitivo!

Prezo as minhas dúvidas com a maior entrega teológica de que sou capaz e proclamo em voz alta a minha dedicação mais profunda ao cepticismo.

Duvido da bondade dos poderosos, da simpatia das vendedoras de automóveis, das traduções de livros estrangeiros, do champô anti-caspa, da cerveja sem álcool, dos ministros da educação e das receitas milagrosas para emagrecer.

Um copo de água com três gotas de limão tanto pode combater o acne juvenil como provocar uma enormíssima azia se for tomado em jejum. Mas também pode não acontecer nem uma coisa nem outra. Deve ser mais ou menos como as vacinas para o covid.

Duvido do riso dos apresentadores de concursos, dos benefícios da canela, dos emplastros de beringela, da sabedoria das multidões, do preço do sabão amarelo, dos engates nas redes sociais e da consistência da manteiga de amendoim.

E no fundo, claro, duvido muito e mesmo muito de mim.

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