quarta-feira, 17 de março de 2021

RECENSÃO Liede para um baixo contínuo CORRER PARA TRÁS

correr para trás e abrir a torneira e correr deixar

branco ou tinto a salvação

sorriso poesia da salvação

a salvação do sorriso a poesia

simples estrada sem sinais de trânsito

estrada que vai da boa à boa

regresso esquecido regresso ao calor

à fonte boa da dor olé em sol maior

acústica cega de fazer rir de joelhos espelhos nunca vistos

Onde os erros de rastos perante o mar e as flores

onde a luz que ri pássaros

ora aí é a folha velha a enverdecer

poesia

uma filosofia finalmente limpa em banho Maria

a dormir numa tuba de hipotálamos

e clarinetes de cegonhas

pedagógicas autoheteroestradas

pedagógicas como o musgo nas figueiras

e o ziguezague dos mexilhões e das lapas

pessoas gaivotas gráficas pessoas carrocéis

de poesia papel de arroz para outras ervas

flutuantes canções na primeira oportunidade oitava

poesia

para dizer o eco que está por baixo das pedrinhas

onde se encontrar tudo no seu exemplo de passar

cheirar e ser de mais a mais

a paciência do mistério no licor possível

restos de maresia mais do que cem tratados de filosofia

onde molhar os pés e caminhar o tempo no relógio de areia

porque é no mar que as coisas acontecem poesia

é lá que os gatos deslizam das páginas e nos dão a mão para a noite

lá já os dedos correm sem atmosfera

para lá da respiração lá

lá dentro

abrem-se águas onde vagas ébrias como pegadas

com uma ocarina entalada nos lábios o céu numa curva da estrada

que se deslocar e se resolver a embora ir embora

ruptura para ir cantar a espiral da cóclea no arco íris do corpo

melodia da folha rasgada em cama de girassóis

toute de suíte a sombra do alvoroço

ritmo de quem chupa a via láctea na ponta da unha até aos dedos

começo de bosques longínquos

de uvas maduras mambos mirtilos e boleros

de abelhas pontualmente às sete e meia idade do mergulho

em qualquer coisa mágica sósia dos milagres calçado ortopédico da eternidade

das roseiras dos sargos e das sestas lâminas de silêncio num mundo líquido

talvez onde se ouvir a música da chuva

e se veja a derradeira verdade verdadeira a la minuta

lá onde o oceano começa a terra crua

dança a entrada da casa sopra

o vento de Gaugin e Bougaiville

exortam-se nos rios fugas urgentes

partituras de luz cinco vezes oito horizontes

praias de molas da roupa no chão do piano preparado

para receber hipóteses incontroláveis supérfluas

livres palavras afeta e desprendidas

nenhum sabor de sua escalada

nómada radiante embrião de lés a lés

na escuridão azul e branco em que as luzes se confundiram

hora da ocasião exata da poesia

aurora de riso no glossário dos abismos

adegas abertas onde se desomunh como gargantas

ao voo das vespas nas mesas das pernas musas devassas

escarpas todas são sexo ardente acordeão e concertina

que o mar rebenta até às palavras

proféticas de Elvis e dos touros livres correndo

atrás das touras abençoadas pelo hálito das bruxas

velhas corridas em queda livre como as primeiras palavras

 

 


1 comentário: