A Emily Dickinson
A vida passa-te à janela
um ar gelado
queima-te o tempo que resta
ela parte para longe
tu ficas
cortado ao meio
morres
no absinto dos dias
com a boca cheia de abysmo
e os olhos fundos
postos na sebenta
escrevendo ao anjo
o desespero do vazio
o osso duro na garganta
a tesoura na língua
o sangue seco
sobre a ferida da tarde.
Todos os desastres do mundo
buscam o teu corpo.
Vai-te embora
não lamentes
não voltes.
Inédito: Carlos Ramos
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