A Leopoldo Maria Panero
Coloco a mão nesta data querida
inconsciente das vidas dos outros
frutos deste dia
em que o silêncio é cada vez mais fundo
mas deixa que ele pergunte o que se passa
nas pessoas intervaladas pelo medo
que idade têm aquelas flores
que lhes murcham os fatos?
certas coisas morreram
mas ainda não se sabe quais
alguns assobiam uma canção de memória
outros republicam as fotos
desgastadas pelo cansaço da desilusão
que Primavera é esta
que dedo de sangue deixou de pingar vermelho
o fogo ar acima como uma bandeira
incendiando o azul.
Dentro de nós tremeluz um país
o poema que nasceu neste dia
desenrolou-se no céu
como um lençol
e depois morreu
guardo-lhe as cinzas
para a raiz de pulmões novos.
Nesta amargura eu li-o ao meu amigo
enrolado no desvelo da lonjura
o meu amigo disse:
acabaram-se os lugares onde pousarmos
mas ainda estamos por cair.
Carlos Ramos. A destruição da mentira. Heteronimus 2020.
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