domingo, 21 de março de 2021

Flores

            A Leopoldo Maria Panero


Coloco a mão nesta data querida

inconsciente das vidas dos outros

frutos deste dia

em que o silêncio é cada vez mais fundo

mas deixa que ele pergunte o que se passa

nas pessoas intervaladas pelo medo

que idade têm aquelas flores

que lhes murcham os fatos?

certas coisas morreram

mas ainda não se sabe quais

alguns assobiam uma canção de memória

outros republicam as fotos

desgastadas pelo cansaço da desilusão

que Primavera é esta

que dedo de sangue deixou de pingar vermelho

o fogo ar acima como uma bandeira

incendiando o azul.

Dentro de nós tremeluz um país

o poema que nasceu neste dia

desenrolou-se no céu

como um lençol

e depois morreu

guardo-lhe as cinzas

para a raiz de pulmões novos.


Nesta amargura eu li-o ao meu amigo

enrolado no desvelo da lonjura

o meu amigo disse:

acabaram-se os lugares onde pousarmos

mas ainda estamos por cair.


Carlos Ramos. A destruição da mentira. Heteronimus 2020.

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